Escândalo na Atualbank: ‘Laranjas’ e Condenado por Estelionato Associados à Instituição Financeira A operação de um “banco” administrado por um líder do Partido dos Trabalhadores (PT) de Brasília, que utiliza um documento falso do Tesouro Nacional como garantia de capital social, está sendo investigada pela Polícia Federal. Isso é o que indica uma matéria do jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a investigação do veículo de comunicação, o Atualbank, que afirma operar na capital federal, possui envolvimento de “laranjas” em sua fundação e, além disso, tem conexão com um indivíduo condenado por estelionato em Mato Grosso. O líder da empresa é Fernando Nascimento Silva Neto, dirigente do PT de Brasília e ex-procurador do ex-ministro José Dirceu (PT). O Estadão revelou exclusivamente o funcionamento do banco e a investigação sobre uma suposta fraude aplicada em São Paulo. De acordo com o jornal, o Atualbank declara possuir um capital social de bilhões. Este valor é sustentado por uma suposta letra de crédito do Tesouro Nacional, avaliada em R$ 8,5 bilhões. O Tesouro informou à equipe de reportagem que o documento é falso e que a utilização do mesmo deveria ser investigada pela Polícia Federal. Documento do Atualbank, de 2021, registra mudança de capital social do ‘banco’ com letra do Tesouro Nacional supostamente avaliada em R$ 8,5 bilhões | Foto: Reprodução/Estadão A companhia comunicou à Junta Comercial de São Paulo que a “Série Z” da Letra de Crédito do Tesouro Nacional, alegadamente emitida de acordo com uma lei de 1970, está “no cofre da tesouraria”. Contudo, segundo o Estadão, o documento não é autêntico. Não há registros de emissões de letras do Tesouro da Série Z na década de 1970. A Polícia Federal iniciou um processo de investigação. A organização informou ao meio de comunicação que, devido à natureza confidencial do processo, não poderia fornecer mais detalhes no momento atual. Quando Fernando Neto foi procurado pelo Estadão em agosto, ele desconsiderou a importância de sua empresa usar um documento falso. De acordo com ele, o título “nunca foi utilizado e não tem funcionalidade alguma” para o Atualbank. No entanto, quando questionado novamente sobre a investigação, ele optou por não se pronunciar. Embora o “bank” esteja no nome, a empresa nunca foi uma das entidades autorizadas pelo Banco Central. Isso implica que, na realidade, não é um banco propriamente dito, mas sim uma companhia que declarou à Receita Federal que sua atividade consiste em “consultoria em tecnologia da informação”, “administração de cartões de crédito”, “correspondentes de instituições financeiras” e “consultoria em gestão empresarial”. Durante aproximadamente cinco anos, Fernando Neto atuou como procurador de José Dirceu. Em maio de 2018, o ex-ministro lhe concedeu uma procuração para representá-lo “em quaisquer repartições públicas federais, estaduais e municipais, inclusive no Ministério da Justiça, na Câmara e no Senado”, podendo nelas “requerer, alegar e assinar o que necessário for”. Com o documento em mãos, Neto conseguiu se estabelecer no PT e em Brasília como o braço direito de Dirceu. Ele começou a se autodenominar como “assessor especial”, “amigo” e até “filho de criação” do ex-ministro. Dirceu só revogou a procuração que havia assinado na véspera de se entregar para cumprir uma pena relacionada à Operação Lava Jato em setembro do ano passado. A equipe do ex-ministro comunicou ao jornal que a revogação ocorreu após ele “tomar conhecimento de indícios de que Neto estaria falando em seu nome”, no entanto, não especificou as circunstâncias que conduziram à separação. Desde março de 2024, Fernando Neto é oficialmente o proprietário do Atualbank. No entanto, ele assumiu a posição de presidente da empresa desde o final de 2023. Em declarações públicas, ele afirmou ter participado da “montagem” da empresa em 2018. Eletricista de Ar-condicionado Gerencia ‘Banco’ De acordo com o que o Estadão investigou, a fundação e o funcionamento do Atualbank são baseados no uso de “laranjas”. Enquanto Fernando Neto começava a se posicionar em Brasília como o novo presidente, Cristiano dos Santos Cordeiro Velasco, um eletricista de instalação de ar-condicionado residente em Búzios, no Rio de Janeiro, era, no papel, o proprietário da companhia. Antes de se tornar um “banqueiro”, Cristiano recorreu a parcelas do auxílio emergencial pago durante a pandemia de covid-19. Quando questionado pela equipe de reportagem do Estadão sobre o banco, ele confirmou ter cedido seu nome a um grupo sob a promessa de receber dinheiro em troca. O jornal coletou uma série de depoimentos que revelam que Walter Dias Magalhães Junior, um estelionatário condenado em primeiro grau pela Justiça de Mato Grosso e investigado por outros crimes, está por trás das operações do Atualbank. O ex-ministro José Dirceu assinou, em cartório,uma procuração em que concede amplos poderes ao empresário Fernando Nascimento Silva Neto, responsável pelo Atualbank | Foto: Vinícius Valfré/Estadão Walter Tiburtino tornou-se o nome que ele começou a usar, sendo identificado como “conselheiro administrativo” do banco no site da empresa. No entanto, durante uma investigação jornalística, quando o grupo já estava ciente de que uma matéria sobre o Atualbank estava em andamento, seu nome foi removido da seção “Quem somos” do site oficial. Junior Walter Dias Magalhães foi condenado em primeira instância pelo tribunal de Justiça de Mato Grosso por ser o líder de uma organização criminosa que perpetrou estelionato, e já teve uma passagem pela prisão. Acusado na “Operação Castelo de Areia”, conduzida pelo Ministério Público Estadual (MPMT), ele é alegado de ter lucrado mais de R$ 50 milhões através de golpes contra empresários. Enquanto busca recurso, também está sob outra investigação em curso pelo Ministério Público de Mato Grosso. De forma simultânea, uma investigação está sendo conduzida pela Polícia Civil de São Paulo que examina um suposto golpe do Atualbank contra uma empresa que procurou o “banco” em busca de serviços de linhas de financiamento internacionais. No mês de agosto, Fernando Neto, que é empresário, não forneceu detalhes sobre o papel de Walter Junior no Atualbank e procurou diminuir a importância de sua empresa, na qual se apresenta como presidente, utilizar um título falso do Tesouro Nacional. O dirigente do PT não quis detalhar à reportagem